sexta-feira, 25 de outubro de 2013

De elogio para reconhecimento

©MamaMia
Há muito tempo que não escrevo sobre elogios e reconhecimento. Podes encontrar aqui um artigo antigo.

Os elogios ajudam pouco quando educamos os nossos filhos por várias razões. Uma delas é que a utilização de elogios não fortalece a auto-estima (embora, eventualmente, possa fortalecer a auto-confiança).

A auto-estima é a capacidade de se gostar de si próprio, de se sentir bem consigo próprio independentemente do seu comportamento e das suas conquistas. Por outro lado, a auto-confiança é fortalecida quando sei fazer algo bem e me sinto bem numa situação específica. Acredito que uma das principais tarefas que temos como pais é ajudarmos os nossos filhos a desenvolver uma elevada auto-estima uma vez que essa funciona como um ”sistema imunitário” em situações desafiantes (divórcios, problemas na escola, com amigos, bullying etc.). 

A segunda razão para a ineficácia dos elogios é que estes não ajudam a criança a aprender nada sobre o comportamento em si, e o porquê do mesmo. Principalmente crianças pequenas necessitam saber o que fizeram, porque funcionou, e porque é bom. Experimenta os seguintes passos para ajudares o teu filho a aprender sobre o comportamento dele e a desenvolver bem a sua auto-estima. 
1. Utiliza linguagem pessoal. Inicia as frases com ”Vejo-te...”, ”Ouço-te...”, ”Reparo que...”... seguido de uma descrição. Ou utiliza incentivos como ”Conta-me mais sobre...” ”O que vais fazer com...”  Ou combina as duas formas. 
Reparei que estavas a separar os legos por cores e depois fizeste torres de cores diferentes. Este é azul e este é vermelho. O que vais fazer agora?


2. Repara e dá feedback sobre esforço.
João, demorou muito tempo a fazer um castelo com os legos, mas estavas muito concentrado e esforçaste-te muito para acabar.

3. Incentiva a criança a falar.
As crianças aprendem mais quando falam sobre as suas experiencias, as suas explorações e criações. ”Ah, o que é isso que criaste com os rolos?” ”Este desenho tem muitas cores, queres-me contar o que é?”

4. Presta atenção aos detalhes. 
Quando olhas para um desenho que o teu filho fez, ou uma criação qualquer, repara nas coisas pequenas. As linhas, formas, cores, texturas... ”Olha aqui tem muitas cores no mesmo sítio, azul, vermelho, verde, amarelo... mas aqui só utilizaste uma cor, o azul, e aqui as cores são mais fortes do que daquele lado.”

5. Diz obrigado! 
Quando a criança te ajuda, Agradece e explica porque estás a agradecer. ”Obrigada por pores a mesa, assim consegui acabar o jantar mais rápido.”

6. Dá feedback ”não-verbal”. Quando a criança desce o escorrega, sorri e diz adeus. Quando está a fazer os trabalhos de casa, faz uma festa nas costas. 

7. Repara em progressos. Quando a criança consegue fazer algo sozinha quando antes necessitava de ajuda, dá feedback. ”Olha, ontem precisaste da minha ajuda para apertar os sapatos, mas hoje já conseguiste sozinho.” 

E então, o que te parece, faz sentido procurar utilizar mais reconhecimento do que elogios? 

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Como falas com o teu filho? O poder da Linguagem Pessoal



©MamaMia
Muitas vezes quando falamos com os nossos filhos e outras crianças somos pouco claros sobre o que queremos, e falamos muitas vezes na terceira pessoa. Exprimimo-nos com frases tipo:

”Isso não se faz....”
”O Papá está muito zangado...”
”O Diogo tem de...”

É uma comunicação impessoal que é muito menos eficaz do que quando falamos através do EU, das nossas próprias necessidades e vontades. O psicólogo americano Thomas Gordon desenvolveu o conceito do ”I-Message” (Mensagem-EU). O foco está em mim como adulto e o que eu quero e não na criança e o que ela está a fazer. A partir de agora vamos chamar o ”I-message” de ”Linguagem Pessoal”. 

Este tipo de comunicação vai resolver todos os teus problemas de comunicação com os teus filhos? Não! Mas, comunicar através de uma linguagem pessoal tem várias vantagens, entre elas:

É uma forma do adulto poder descrever a sua experiência sem culpar a criança (culpa, uma das piores emoções que há, danifica a auto-estima da criança).

Aumenta a probabilidade de a criança ouvir o que o adulto está a dizer uma vez que se procura falar de uma forma simpática. E consequentemente aumenta a probabilidade de a criança colaborar.

Ajuda a criança a compreender que o seu comportamento tem consequências para outra pessoa (as emoções e as experiências do adulto). Ou seja, ajuda a desenvolver empatia.

Ensina a criança uma boa forma de comunicar as suas necessidades/os seus sentimentos/as suas emoções.

Diferencia entre pessoa e comportamento (muito importante para a auto-estima da criança).

É uma informação clara sobre o que o adulto quer e não quer.

A criança fica a conhecer o adulto melhor. 


Para utilizares uma Linguagem Pessoal, respira um pouco, ”ouve” para dentro e explica:

  1. Qual o problema
  2. O que te faz sentir
  3. Porquê (se souberes)
  4. O que queres/não queres

Por exemplo:

  1. Está um copo e um prato com restos de comida na mesa da sala
  2. Fico mesmo frustrada
  3. Porque gosto que a sala esteja arrumada
  4. Gostava que arrumasses as tuas coisas quando comes na sala. 

  1. Já são 9 horas e ainda não te vestiste
  2. Fico muito stressada
  3. Porque não quero chegar atrasada ao trabalho
  4. Quero que te vás vestir agora

Agora, lembra-te de uma coisa: nunca utilizes esta forma de falar como um método. Não vai funcionar mesmo. Mais de metade do sucesso tem a ver com a tua autenticidade, tens que sentir o que estás a dizer. Ou seja, não podes falar só da cabeça, tens de falar da cabeça e do coração. O risco quando falamos só da cabeça é que a mensagem sai com uma boa dose de culpa para a criança.

Às vezes comunicamos coisas que não vêm do nosso coração, mas que vêm das expectativas que achamos que os outros têm. Comunicamos coisas aos nossos filhos com as quais não estamos bem alinhados, só o fazemos porque achamos que o deveríamos fazer. Isso também não funciona. Um exemplo clássico é o adormecer à noite. 

Uma vez falei com uma mãe que dizia que queria que a filha adormecesse sozinha. Falamos sobre o como ela poderia comunicar isso à filha. A mãe pensou na seguinte forma. 

”Filha, é um problema para mim adormecer-te todos os dias, já tens 9 anos e é altura de começares a adormecer sozinha. Todos os meninos da tua idade adormecem sozinhos e eu quero que tu o faças a partir de agora.” 

A mãe não parecia muito convencida quando dizia a frase e pedi para ela olhar para a frase novamente. A mãe assim percebeu que estava a passar muita culpa à filha (”é altura de começaras a adormecer sozinha”, ”todos os outros meninos”). Faltava a emoção por trás do problema. Mas a mãe não estava a conseguir chegar lá. Procurei ajudar.. ”Ficas frustrada?” ”Ficas irritada ou stressada?” ”Sentes-te zangada?”.... não, nada disso correspondia ao que a mãe sentia. Pedi para a mãe fechar os olhos um pouco, respirar fundo e procurar ouvir mesmo o que o coração dela dizia sobre o problema. Passado um pouco a mãe abriu os olhos e ,com uma expressão de surpresa disse, ”Mas eu GOSTO de adormecer a minha filha! Sinto-me mesmo bem ao fazê-lo e é um bom momento.... Toda a gente me diz que ela já deveria adormecer sozinha, mas na realidade para mim não é um problema”. Bingo! 

É importante perceber que não há certo e errado. Nem é certo nem errado adormecer uma menina com 9 anos. É o que é. E cada relação tem a sua solução. Também não quer dizer que esta mãe daqui algum tempo não possa sentir outra coisa. Mas só quando ela sentir isso mesmo é que ela vai conseguir passar a mensagem de uma forma autêntica.