quinta-feira, 24 de abril de 2014

5 DICAS PARA PREVENIR BIRRAS

© MamaMia
Ele está mesmo na fase das birras! Ouço esta frase, e outras parecidas, tantas vezes. Parece que muita gente acha que existe uma fase, obrigatória, pela qual a criança tem de passar. Que é uma fase em que a criança contraria tudo, que testa os limites e que desafia. E que nessa fase é importante definir bem os limites, castigar se for preciso, e lembrar-se de que há sempre ”a palmada na hora certa”. Quem me conhece sabe que não estou nada de acordo. :)
O terapeuta familiar Jesper Juul costuma dizer que quando a criança entrar na famosa ”idade das birras” que como pais deveríamos relaxar. Pegar no jornal, sentar e dizer… ”quando precisas de ajuda, chama-me”
Porque é que o Jesper Juul diz uma coisa dessas? A questão é que todo o comportamento existe para satisfazer algum tipo de necessidade. E uma criança que faz birras, contraria, desafia e ”testa os limites” normalmente é uma criança que está a procura da sua independência. Uma criança nessa idade que faz birras é uma criança que está a procurar ganhar mais influência sobre a sua vida. Ela quer assumir responsabilidade pela sua própria vida, pelas suas necessidades e vontades. Quer aprender a fazer coisas sozinha. Quer ser mais independente. Ela quer sentir-se capaz e competente. 
Na psicologia de desenvolvimento costuma-se dizer que isto acontece 3 vezes na vida da criança. Por volta dos 2-3 anos, aos 6 anos e na adolescência. E quando acontece é muito importante nós pais estarmos preparados para dar o apoio necessário à criança. Quanto mais conseguirmos apoiar a necessidade de ser independente, mais independente a criança se tornará no futuro. Faz sentido?
O Jesper Juul também diz: ”Não são as crianças que fazem birras, são os pais! As crianças tornam-se independentes e os pais fazem birras”.
O que podemos fazer então para guiar uma criança que está a contrariar e desafiar, que tem uma opinião própria muito forte, que fica zangada e triste quando não consegue o que quer? 
Estratégias e métodos regularmente sugeridos envolvem muitas vezes distrair a atenção, ignorar a birra, colocar a criança de castigo (para pensar um pouco), pegar na criança com firmeza e dizer ”Não!” com uma voz segura, dar a tal ”palmada na hora certa”… 
Quando praticamos Parentalidade Consciente sabemos que ameaças, palmadas e castigos não servem se queremos apoiar a criança a caminho da independência. Sabemos que um cérebro pequeno não consegue ”pensar no que fez” num estado de birra. Sabemos que para a criança desenvolver empatia, a auto-estima, o respeito pelo outro, precisamos de a ajudar a preencher a necessidade que está por trás do comportamento. E quando temos esse foco, encontramos soluções bem diferentes. 
Como estas birras normalmente são uma consequência da necessidade da criança de se tornar mais independente e de ela obter significância, de se sentir capaz e competente, então é nisso que me vou focar. 
Como posso ajudar o meu filho a sentir mais independente, capaz e competente? Se eu conseguir ajudar o meu filho a satisfazer as necessidades de formas mais saudáveis, então ela não tem de fazer birras para as procurar satisfazer.
Aqui vão algumas sugestões de coisas que podemos fazer para prevenir birras (e lembra-te que claro que deves adaptar as soluções à idade da criança):
Deixa a criança decidir: esta é bem difícil para muitos de nós. Mas tão, tão importante. A grande maioria dos pais assumem decisões que a criança pode tomar sozinha. Deixa a criança decidir o que vestir, como pentear o cabelo, se toma banho antes ou depois do jantar, se faz os trabalhos de casa logo ao chegar à casa ou se espera um pouco, com quem brincar, etc. Se tens dificuldade com estas coisas então pergunta-te bem porquê e explora as tuas respostas enquanto experimentas dar mais liberdade ao teu filho.
Pergunta a opinião da criança: A minha filha (10 anos) adora quando pergunto o que ela acha que eu devo vestir. Também gosta de ter influência nas decisões que envolvem a família. Pergunta mais vezes a opinião do teu filho. ”Onde achas que devemos ir de férias? O que vamos fazer par a o jantar? Qual o vestido que achas que devo comprar? Onde achas que devemos ir primeiro?”
Dá responsabilidade à criança: Noutro dia íamos receber muitas pessoas em nossa casa. A sala estava bastante desarrumada e eu estava sozinha com os meus três filhos. Comentei que achava que a sala estava bastante desarrumada. A minha filha respondeu ”Se calhar era melhor arrumarmos um pouco?” e olhou para os irmãos (6 e 3 anos). ”Boa ideia” respondi ”então isso é a vossa responsabilidade enquanto eu preparo a comida”. Passado meia hora, não tinham arrumado só a sala, mas também os quartos. Será que se sentiram capazes e competentes? Que tal perguntares ao teu filho ”Será que queres assumir responsabilidade por alguma coisa aqui em casa?” 
Quando fica bem claro para a criança que ela tem a responsabilidade por alguma coisa, o mais provável é que ela assume mesmo essa responsabilidade. Por exemplo a arrumação do seu próprio quarto, os trabalhos de casa, pôr a roupa a lavar etc. Muitas vezes o que custa mais é nós pais termos paciência e conseguirmos dar à criança o espaço necessário paz ela sentir que a responsabilidade é mesmo, só, dela. E as sensações de ser independente, capaz, competente e significativa crescem. 
Ensina coisas novas: Noutro dia perguntei ao meu filho do meio se ele queria aprender a apertar os laços dos sapatos e neste momento andamos nesse projeto. Não precisam de ser coisas avançadas. Aliás, é perfeito começar por coisas simples do dia-a-dia. Já perguntaste ao teu filho ”o que queres aprender a fazer aqui em casa?” Preparar o próprio pequeno almoço (hoje de manhã o meu mais pequeno de 3 anos fez a papa de aveia), colocar manteiga no pão, por leite no copo, enviar um sms, ligar a máquina de louça, ligar o dvd, etc. 
Mostra que tens confiança na criança em tarefas importantes: ”Atendes por favor o telefone que não posso falar quando estou a conduzir?” ”Podes ficar aqui um pouco enquanto o teu irmão toma banho para eu pôr o arroz a cozer?” ”Vais buscar o leite e eu vou buscar o pão?” ”Pagas a conta?” 
Certamente consegues pensar em mais coisas que podes fazer. Tu é que conheces melhor o teu filho. Lembra-te de perguntar: 
Como posso ajudar a satisfazer a necessidade de independência? Como posso ajudar o meu filho a sentir-se capaz e competente?” 
Lembra-te também que vai haver birras na mesma de vez em quando. E o que faço nestes casos? A minha recomendação: Se queres praticar Parentalidade Consciente então foca-te em manter uma boa relação e não em corrigir o comportamento. Encontra dentro de ti muita paciência e muito amor incondicional e lembra-te que numa relação em que nos sentimos bem, temos a tendência de nos portar bem. :) 


quinta-feira, 3 de abril de 2014

Intenções e Valores

© MamaMia
Qual a tua intenção como mãe/pai? Quais os teus valores? O que é que queres viver? Já pensaste mesmo a sério nisso?  

Os meus valores já tenho bem definidos desde que fiz a minha formação com a Family Lab (não antes...). Igual valor, autenticidade, integridade e responsabilidade estão sempre comigo. Hoje não vou entrar em mais pormenor em relação aos valores porque quero-me focar em intenções.

Podemos olhar para as nossas intenções em dois níveis. Posso ter intenções em relação a mim como mãe/pai e posso ter intenções em relação ao meu filho e o que lhe quero transmitir. Há um senão em relação às intenções relacionadas com o meu filho... muitas vezes essas intenções transformam-se em expectativas. E expectativas são grandes inimigos de qualquer relação. Para evitar que essas intenções se transformem em expectativas, o mais fácil é definir que a minha intenção é passar certos valores ao meu filho e focar o resto das intenções em mim.


Acho que definirmos as nossas intenções é uma coisa que deveríamos fazer antes de ter filhos. Nunca conheci ninguém que o tivesse feito desta forma, nem antes, nem depois... Uma vez escrevi o meu manifesto de mãe (bastante depois de ter tido filhos...), o que foi um primeiro passo no caminho das intenções. Depois de ter escrito esse manifesto, e após ter lido Everyday Blessings: The Inner Work Of Mindful Parenting de Jon and Mayla Kabat-Zinn, um dos meus livros preferidos sobre parentalidade, decidi realmente escrever as minhas intenções. Nunca as cheguei a publicar aqui, mas já as partilhei em palestras, cursos e e-cursos. 

Então aqui vão as intenções (muito inspiradas no livro em cima) da Mama Mia.


1ª Intenção: A minha intenção é entregar-me totalmente a uma parentalidade consciente e ter sempre os meus valores base comigo.

2ª Intenção: Vou olhar para a parentalidade como uma oportunidade única de me ficar a conhecer cada vez melhor. Para assim poder partilhar o melhor de mim com os meus filhos (e em todas as minhas relações).

3ª Intenção: Vou praticar Mindfulness e vou procurar estar conscientemente presente em todos os momentos (principalmente com os meus filhos).

4ª Intenção: Vou-me sempre esforçar para VER os meus filhos. Vou procurar deixar todas as minhas expectativas e todos os meus medos de lado. Vou procurar aceitar os meus filhos exatamente como são em todos os momentos. Isso também quer dizer que vou trabalhar para me ver a mim, e para me aceitar a mim, para assim conseguir ajudar os meus filhos a fazerem o mesmo.


5ª Intenção: Vou-me esforçar para ver sempre os pontos de vista dos meus filhos e procurar perceber quais as suas necessidades.

6ª Intenção: Vou aproveitar todos os momentos da minha vida com os meus filhos. Os bons e os menos bons, exatamente como estão.



7ª Intenção: Vou guardar estas intenções no meu coração junto com os valores que quero praticar e tenho um compromisso comigo mesma de as ter presentes da melhor forma que consigo, todos os dias.   



E quais são as tuas?