domingo, 2 de março de 2014

7 formas de te conectares mais com o teu filho (ou qualquer outra criança)

© MamaMia
Uma das coisas mais importantes, se não “a” coisa mais importante, na relação que temos com uma criança é o nível de conexão: é o nível de conexão que a criança sente connosco que vai determinar a forma como ela se comporta connosco! 

Muitas pessoas passam pouco tempo com os filhos durante a semana, entre escolas, trabalho e atividades – o que origina a a dica habitual de pelo 10-15 minutos de brincadeira e conversa por dia, sem outras tarefas, o chamado ”tempo especial” ou ”tempo de conexão”. Gostava de explorar em mais pormenor o que podemos realmente fazer durante esses momentos, mas também em todos os outros que temos com os nossos filhos e em que convivemos com crianças. 

Aqui tens 7 formas de te conectares mais com o teu filho (ou outra criança) - ao mesmo tempo vão ajudar a fortalecer a auto-estima


1. Convida para conexão e tempo em conjunto

Noto que muitos pais que decidem que vão adotar ”o tempo especial” diário, aqueles 10 minutos sem outras tarefas, utilizam uma linguagem que nem sempre é muito convidativa para a criança. Podem por exemplo dizer o seguinte:

Posso brincar aos Legos contigo agora se quiseres. 

Se quiseres fazer os trabalhos manuais comigo tem de ser agora, depois tenho muitas outras coisas para fazer.


Imagina por uns momentos que o teu companheiro/a tua companheira dissesse:

Posso fazer sexo contigo agora se quiseres, mas tem de ser agora, porque tenho muitas outras coisas para fazer depois. 


Será que há outra forma de dizer as coisas? Uma forma que convida para um momento em conjunto, um momento desejado por ambas as partes? Será que há diferença se dissermos:

Gostava muito de brincar contigo aos Legos agora.

Estou com vontade de fazer trabalhos manuais, queres-te juntar a mim?

(ou ao parceiro/a: Estou mesmo com muita vontade de fazer amor contigo. Queres ir lá acima?


Para quem sente que não consegue encaixar estes momentos especiais e únicos, se calhar  experimentar fazer outro tipo de convites pode ser possível (e muito bom!):

Vou começar a fazer o jantar agora. Queres vir comigo à cozinha e podemos aproveitar para falar só os dois, e se quiseres podes ajudar a cozinhar também. 

Vou limpar a casa de banho agora, adorava que viesses comigo, fazes-me companhia e assim podíamos aproveitar e falar sobre como queres organizar a tua festa de anos. 


2. Interessa-te pela criança

Interessa-te pela criança e não tanto pelas coisas que ela faz e tem. Quando demonstramos real interesse pela criança, pela pessoa que ela é, pela vida interior dela, tiramos completamente o foco do comportamento e dos atributos físicos. Não julgamos e não avaliamos. Reconhecemos e demonstramos interesse. Avaliações e julgamentos não promovem um contacto profundo, são obstáculos à comunicação e muitas vezes a conversa não se desenvolve e não ficamos a saber nada sobre a vida interior da criança. Vou exemplificar a diferença com um exemplo pessoal que aconteceu ontem com o meu filho (6 anos) quando o fui buscar ao infantário.


Mamã, quero-te mostrar um desenho que eu fiz de um barco de vikings! 

Sim?! Vai lá buscar então!

Olha, mamã!



Nesta fase tenho duas escolhas…. uma que abre a conexão e suporta a auto-estima. Outra que fecha e pode eventualmente ajudar com a auto-confiança. Se utilizasse a segunda forma (que é a que mais ouço) seria algo como:


Que lindo, filho! Estás a desenhar tão bem!


Mas a conversa que se seguiu foi mais ou menos assim:

Um barco de vikings! É enorme, e tem um, dois, três, quatro vikings. Estes vikings parecem muito contentes!

Pois estão!

Onde vão?

Vão a Australia! 

Ui, é uma viagem muito longa então?!

Pois é, têm de levar muita coisas no barco para sobreviverem! 

Sim… E tu, se tivesses um barco desses verdadeiro onde ias?

Não sei…. se calhar também ia a Australia! Pode-se ir a muitos sítios!

Pois é? Posso ir contigo?!

Sim, vamos só nos os dois! 


O interesse, a abertura, a curiosidade são coisas que criam contacto. São coisas que nos permitem ficar a conhecer a vida interior do nosso filho. A avaliação só serve se há uma expectativa de sermos avaliados. E não acredito que a criança lá no fundo queira ser avaliada, acredito mais que queira ser reconhecida, se queira dar a conhecer e conectar! 


3. Reconhece as emoções da criança

Procura reconhecer as emoções da criança em vez de julgá-las. Partilha as emoções da criança em vez de avaliá-las. Elogios são uma forma de avaliar. Quando estou constantemente a avaliar arrisco-me a ter um filho que fica dependente de elogios para o seu bem estar. E também é bom lembrar-me que o elogio tem sempre um oposto…  

Em vez avaliar e elogiar posso partilhar as emoções nos momentos em que muitas vezes se dão elogios. Por exemplo:

Wow! Que bonito! Sabes dançar mesmo muito bem! Acho que foste a melhor! 

posso trocar por:

Wow! Estavas mesmo concentrada a dançar. Como é que te sentes quando danças assim? 


Em relação às emoções que costumamos rotular como negativas é importante não julgar o que a criança está a sentir. As emoções da criança são tão fortes como as nossas. Se calhar não ficamos a chorar compulsivamente porque a nossa roupa preferida está para lavar. Mas podemos ficar muito, muito tristes por outras razões. A única diferença é que as razões são diferentes. As emoções são as mesmas. 

Outra tendência que temos é de tentar salvar a criança das emoções fortes e negativas – o que também não é necessário. 

Quero as minhas calças verdes!

Tu gostas mesmo daquelas calças!

São as minhas preferidas.

Pois, sabes, lavei-as ontem a noite e ainda estão molhadas. 

Mas eu queeeero!

Eu sei, gostavas mesmo de as vestir hoje outra vez, não era? 

Siiim! Quero as minhas calças veeeeeeerdes!!!!  Elas não estavam nada sujas! 


Olhei para elas ontem a noite e pareceram-me sujas. Agora estou a perceber como deves gostar mesmo muito daquelas calças. Estás muito chateado?

Sim, quero as verdes….. 

Se calhar para a próxima pergunto-te antes de as pôr para lavar, o que te parece?

Sim…. mas quero-as agora….

Pois, porque as verdes são as tuas calças preferidas. E quais são as calças que estão em segundo lugar? 


4. Fala das tuas emoções

Deixa a criança saber como ela te afeta. Tanto positivamente como em situações em que não te sentes bem. 

Por exemplo, na situação em cima em relação à dança podíamos adicionar:

Adoro ver-te a dançar! Lembro-me de quando eu era pequena e andava no ballet. Adorava andar em bicos de pés. 

Ou numa situação em que as emoções são mais dolorosas:

Quando estás a brincar de uma forma tão violenta com o teu irmão, assusto-me. Fico com medo que o magoes a sério. O que pensas sobre isso? 


Nestas situações estamos com o coração aberto a falar do nosso interior. A criança tem a oportunidade de aprender sobre nós e sobre as nossas emoções. Ela vai ficar a saber de que forma ela contribui para o nosso bem estar e como, às vezes, o que ela faz nos pode fazer sentir menos bem. No fundo, agir assim ajuda no desenvolvimento da empatia na criança. Além disso, ela vai ficar a saber que a vida contém um leque de estados emocionais, e que, quando somos inteiros, podemos mostrar essas emoções todas. Ou seja, ela vai ter mais facilidade em mostrar também o que se passa dentro dela.


5. Fala de ti

Muitos pais dizem que as crianças não lhes contam nada sobre o seu dia. Todas as crianças são diferentes mas acredito que acontecem algumas coisas nestas interações que impedem comunicação e conexão. Tu gostavas de falar de ti se a pessoa com quem está a falar não diz nada sobre ela própria? Se queres conectar mais com o teu filho então fala primeiro sobre ti, e o teu dia! 

Sabes, hoje tive um dia mesmo bom! Começou um pouco mal porque estava mesmo cansada de manhã
e tivemos aquela discussão ao pequeno almoço que me fez um pouco triste. Mas depois percebi que eu é que estava a exagerar e depois de termos dado aquele abraço à porta da tua escola senti-me mesmo bem. Fui para o escritório e a Ana e o Miguel já tinham chegado. Fiquei muito contente porque são os colegas que gosto mais e normalmente chegam mais tarde que eu. Aproveitamos para tomar um café e falar de umas coisas muito importantes que vamos fazer nos próximos dias. Estava um pouco nervosa em relação a essas coisas mas depois de ter falado com eles senti-me mais confiante e acho que vai correr bem!



6. Sê congruente e autêntico

Procura ser sempre congruente e autêntico e não dês tanta importância à consistência e de ter sempre as mesmas regras. Se quiseres conectar com uma criança tens uma hipótese muito maior de fazer isso quando dizes e fazes o que realmente pensas, sentes e queres. Quando fazes aquilo em que realmente acreditas, as crianças conseguem perceber a diferença. São hiper-sensíveis à nossa linguagem não-verbal e para-verbal. E quando sentem que há incongruência ficam inseguras (e uma criança insegura muitas vezes porta-se ”mal”). 

Se um dia sentires que era mesmo bom comer à frente de televisão mas não o fazes porque achas que as crianças se vão ”habituar” e não se podes abrir exceções à certas regras porque faz mal, então estás a ser incongruente. É muito provável que numa situação de incongruência as crianças questionem ainda mais a decisão e a vontade do adulto. 

Sabem, meninos, hoje apetece-me mesmo comer à frente de televisão. O que vos parece?

Se lês sempre uma história a noite ao teu filho, mas há dias em que não tens mesmo, mesmo energia para o fazer e preferias só falar um pouco com ele antes de ele adormecer… então convido-te a sugerir isso mesmo. 

Filho, hoje sinto-me mesmo exausta e não estou com energia para ler uma história. Que tal eu me deitar aí ao teu lado e ficamos a conversar um pouco?


Conectamos com pessoas e não com regras, rotinas e normas (embora também se possa argumentar a favor dessas coisas… mas não quando falamos em criar relações e conexões). Conectamos muito mais facilmente e rapidamente com pessoas congruentes do que com pessoas incongruentes, e para sermos congruentes as vezes é preciso ser inconsistente. 


7. Faz perguntas novas

Muitos de nós pais corremos o programa da entrevista ou o interrogatório quando vamos buscar os nossos filhos à escola. 

Correu bem o teu dia?

O que comeste?

Com quem brincaste?


E isso repete-se todos os dias… Fica completamente automático e não nos ajuda minimamente a conectar. Que tal experimentar umas perguntas completamente diferentes. Perguntas um pouco surpreendentes. Perguntas que fazem pensar. Perguntas que fazem rir. Perguntas com verdadeira curiosidade. 

Se pudesses fazer uma viagem a um sítio à tua escolha agora mesmo, onde ias?

Hoje de manhã quando ficaste zangado comigo o que gostavas que eu tivesse feito?

tantas pessoas que dizem que as crianças hoje em dia não respeitam os adultos, o que achas disso?


Para conectarmos com as crianças temos que mostrar que somos pessoas, tal como elas. Temos de nos despir do papel de mãe/pai (ou de professor/educadora…) e mostrar quem somos. E temos de estar mentalmente presentes! Só quando fazemos isso podemos continuar para o passo seguinte que é mostrar um interesse genuíno pela criança, pela pessoa, que temos a nossa frente. 


Quanto mais conexão, melhor a relação.