sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Cara Mãe, Caro Pai... Caro adulto!


No passado recente, escrevi cartas direcionadas às crianças. Hoje quero escrever uma carta para os pais e as mães (e todas as outras pessoas que lidam com crianças)...

©MamaMia
Cara Mãe, Caro Pai... Caro adulto!
Não te quero oferecer nada. Não te quero ajudar com nada. Simplesmente porque não posso. Simplesmente porque é completamente impossível. O que quero fazer, e o que posso fazer, é questionar, apelar à reflexão e apontar para uma verdade eventualmente diferente daquela a que poderás estar habituado.
Se todos investirmos algum tempo a olhar para nós mesmos, para o que está a nossa volta, se pararmos só um pouco, conseguimos facilmente ver que vivemos num mundo de sonâmbulos. Não sabemos o que realmente somos, recusamo-nos a ver o quão profundamente adormecidos estamos. Continuamos cegamente a alimentar um modo de vida condicionado por resultados, objetivos ”ambiciosos”, ”sucesso”... tudo para nos manter adormecidos. E estamos a passar este condicionamento para as nossas crianças. E as nossas crianças estão a tentar dizer-nos que algo está mal. As nossas crianças estão a espernear por todos os lados. Estão a protestar das únicas maneiras que lhes são possíveis.... birras, hiperatividade, falta de concentração, distração, violência, etc..... E nós adultos recusamos a que o problema é nosso. Não é das crianças. Continuamos a escolher o caminho mais fácil, tentando ”tratar” dos ”problemas das crianças”.... recorremos a estratégias e métodos para ”ajudar” (mas a verdade é  que a única coisa que estamos a fazer é exercer o nosso poder).... castigamos, batemos, avaliamos, medicamos.... Estamos tão adormecidos que estamos a perder a oportunidade que as nossas crianças nos estão a dar. Estão a tentar acordar-nos. 
ACORDEM! É o grande grito e a grande mensagem que estamos a abafar, a recusarmo-nos a ouvir. 
(E parece que não temos em mente que um dia nós, como idosos, vamos estar completamente dependentes destas mesmas crianças.
O que tenho para te dizer sobre educação de crianças provavelmente algumas vezes vai doer. Dói-me a mim! Dói porque as vezes estou muito abraçada ao meu ego. Não é porque tenho ”pena” dos meus filhos. É tudo sobre mim. Tal como para ti, é tudo sobre ti. E é a única forma que pode ser. Sou eu que me tenho de por em causa. Sou eu que tenho de estar em paz. Sou eu que tenho de saber quem sou. E só aí posso realmente ver quem é o meu filho. 
E no dia que isso for mesmo claro, não terás mais dúvidas. Porque a resposta não existe independentemente da pergunta....
Porque é que tantos adultos gostam do que escrevo? Porque acredito que ressoa dentro deles! Porque é que tantos adultos desistem de fazer o que sugiro, não conseguem responder às perguntas que faço? Porque dói! E porque é muito mais fácil e muito mais rápido (que grande ilusão!) implementar o sistema de recompensas que o psicólogo sugeriu... 
Com um método qualquer, ao pôr a criança de castigo, ao dar um prémio, ao bater.... não preciso de olhar para dentro. Ponho toda a responsabilidade na criança e continuo a sonambular. Utilizar um método é normalmente menos trabalhoso e menos custoso do que olhar para dentro. Mas tu sabes, tão bem como eu, que é realmente essa a única forma. E agora se calhar estás aí a pensar que “ah, mas não é assim tão fácil” e ”as crianças precisam de limites” e ”isso é tudo muito bonito mas neste mundo em que vivemos” bla, bla, bla... Se for esse o caso digo-te: Pára! Nunca disse que é fácil. Nunca disse que as crianças não precisam de limites. Se tens a tendência de utilizar estes argumentos é porque ainda não olhaste para dentro. 
No início da minha maternidade era a rainha das estratégias e dos métodos. Até um dia, em que ouvi o grito do meu segundo filho: ACORDA! Porque o grito dele foi muito mais alto do que o da irmã mais velha. E foi o que me fez perceber o que estava a fazer. Que andava a fugir de mim mesma. Que estava  a tentar gerir algo que não é possível gerir. Que só se pode viver. E percebi que a minha paz, é a paz dos meus filhos. E que é tudo mesmo muito simples (e tão, tão difícil).
Continuo a fazer muitas ”asneiras” como mãe. Mesmo! Mas nunca, mesmo nunca, ponho a culpa e a responsabilidade disso nos meus filhos. Se grito, não é porque eles se estão a portar mal, é porque eu não consigo aceder a outros recursos naquele momento, o meu ego assumiu o controlo e a responsabilidade é só minha. E peço sempre, sempre, desculpa quando me apercebo que fiz algo fora daquilo que acredito certo. Uma desculpa autêntica! (Sem ”mas vocês estavam a, bla, bla,”)
Fazer o que proponho, poderá abanar as tuas crenças, pode-te até confundir e frustrar e provavelmente às vezes vai irritar o teu ego (tal como irrita o meu). Mas se quiseres acordar, se quiseres mesmo conseguir ter intimidade com as crianças e proporcionar um desenvolvimento realmente saudável... acredito que este caminho vai fazer bem! A escolha é completamente tua. Mas se me quiseres acompanhar neste caminho da parentalidade consciente, convido-te a explorar tudo e não só o que te faz mais sentido no momento. Tem curiosidade! Experimenta e explora a brincar, mas a sério! Prometo continuar a dar dicas, mas acredito que as perguntas e as reflexões são muitíssimo mais importantes. Por isso, utiliza as dicas se te fazem sentido, mas responde também às perguntas, faz as tuas reflexões. Faz as tuas escolhas, informadas. Só assim é que poderás praticar a parentalidade consciente. 
E depois diz-me o que descobriste. 
Espero que aceites o convite. 
Com muito amor e compaixão,
Mia