quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Mas isto não funciona!!!

 
Como sabes se um estratégia de educação está a funcionar ou não?



Muitas vezes quando falo com pais de parentalidade consciente e sobre “estratégias” focadas na conexão, respeito, autenticidade, igualdade…. ouço comentários como “mas não funciona sempre assim!”, “eles têm de saber quem manda!” “Quanto tento essas coisas ele faz birras na mesma!” “E peço para ele arrumar o quarto de uma forma simpática e com empatia mas ele mesmo assim não arruma e acabamos por discutir!” “Ele só faz o que quero quando lhe bato.” Ou seja, o que os pais me estão a comunicar é que continua a haver um sintoma que querem “tratar”. 


A questão é que, para eu poder avaliar se uma estratégia está a funcionar ou não, tenho primeiro de ter um objetivo bem definido. Uma intenção e um objetivo com a minha parentalidade. Só depois de saber isto, posso saber como avaliar se o que estou a fazer funciona ou não. 


Tradicionalmente temos dificuldade em lidar com as crianças quando demonstram muita emoção, muita luta, quando nos questionam, quando batem, quando se “portam mal”… Achamos que deveria bastar dizer “Para com isso!” “Isso não se faz!” “Agora tens de fazer o que te digo!” e as crianças deveriam fazer o que pedimos exatamente no momento em que fazemos o pedido. Não deveriam reagir, ficar tristes, protestar, desafiar. Não deveria haver desafios e conflitos. Deveriam simplesmente fazer o que foi pedido. Basta!


Com esta ideia em mente, cada vez que a criança não faz o que peço, faz uma birra ou reage de outra forma “não adequada”, interpreto isso como um sinal que a estratégia que estou a utilizar não está a funcionar. Se calhar também há pessoas a volta que gostam de reforçar que as estratégias que estou a utilizar não funcionam porque a criança faz birras e porta-se mal na mesma. 


Sem o teu objetivo não for obediência, mas por exemplo promover inteligência emocional, desenvolver empatia, criar independência, capacidade de resolução de problemas, colaboração, boa comunicação, autenticidade, auto-estima, auto-conhecimento, confiança, respeito… pois então, a presença das grandes emoções é necessária. As emoções que nos fazem gritar, desafiar, chorar... E quando estas emoções acontecem, não quer dizer que a nossa estratégia está a falhar. Esses momentos são as grandes oportunidades de praticarmos as nossas estratégias para nos aproximarmos do nosso objetivo e as nossas intenções como pais. 


Como em tudo, as crianças não aprendem por que lhes dizemos uma certa coisa (muita gente diz isto, mas vejo pouca prática ;)). Aprendem sobre a vida, vendo a vida em ação! E a vida não se aprende de um dia para o outro, ou de um momento para o outro. Não aprendo como viver a vida porque alguém ralha um pouco comigo ou me da uma palmada. É um processo, e a criança precisa de muita prática. Precisa de ver os pais e outros adultos a sua volta a praticarem os valores propostos várias vezes. Várias vezes. Têm que experimentar, falhar, errar, desafiar. Porque é assim que aprendem. Aceitamos isso quando a criança está a aprender a andar ou falar… é a mesma coisa com as emoções e os comportamentos “adequados”. Tem de haver tempo de prática, e tem de haver modelos a seguir. Diariamente, momento a momento.

Crianças lutam porque a infância é uma luta! É uma confusão! Nunca mais na vida temos de aprender tantas coisas novas ao mesmo tempo! E se tivermos pessoas a nossa volta a fazerem questão de nos apontar que estamos a fazer coisas mal…. O caminho fica ainda mais desafiante. 


Lidar com emoções não é nada fácil. Todos sabemos isso. E porque achas que continua a ser tão difícil na vida adulta? Eu tenho praticamente a certeza que é porque para muitos de nós, não houve espaço para experimentarmos todo um leque de emoções de uma forma “segura” na nossa infância. Ainda estamos a aprender, só que agora, como adultos, muitas vezes estamos muito sozinhos nessa aprendizagem.


A parentalidade consciente demora mais tempo, sim. Mas assim, conseguimos oferecer uma arena segura para as crianças desenvolverem todas àquelas características valiosas que queremos. Só assim podemos realmente conectar com o nosso filho e apoiar o seu desenvolvimento. E além disso, temos como adultos uma segunda oportunidade de entrar na escola das emoções, e desta vez até sair com o diploma!


E se a estratégia que estamos a utilizar está a funcionar ou não, isso vamos poder “medir” e sentir na relação que temos com o nosso filho, no bem-estar dele… e no nosso coração.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

5 passos para qualquer problema




Não tenho “quick-fixes” para resolver mau comportamento ou situações stressantes entre pais e filhos. Porque depende… de tudo… da criança, da situação, dos pais… de outras pessoas envolvidas etc. Mas hoje gostaria de te apresentar uma ideia de como se pode abordar qualquer situação que tivermos com uma criança, sendo ela o nosso filho, o nosso aluno, o nosso neto, sobrinho ou vizinho… 






Ouve e vê! Ouve o que a criança tem para te dizer, olhando para ela. Observando tudo que há por observar. Faz perguntas, mas poucas. Não julgues, não tentes encontrar soluções, não tentes apoiar, confortar ou mimar. Foca-te única e exclusivamente no ouvir e ver.


Envolve! Envolve a criança na solução do problema/da situação. Uma solução encontrada pela própria criança é mais provável durar. Deixa a criança ser o dono dos seus problemas. O mais provável é que ela venha a ter muitos no futuro, e quanto maior treino, melhor! Tanto para a criatividade na resolução dos problemas como para a auto-estima e auto-confiança. 


Dá tempo! Pode ser que a criança não queira falar contigo quando é a hora mais adequada para ti. Dá-lhe tempo para encontrar a coragem ou a força para falar. Dá-lhe tempo para sentir o que está a sentir. Dá-lhe tempo para digerir. Dá-lhe tempo para encontrar uma solução. E dá-lhe do teu tempo! Avalia em cada situação a quem queres dar o teu tempo… é mais importante passar mais 5 minutos para dizer adeus na escola, ou chegar 5 minutos antes ao trabalho?


Conexão antes de correção! É fácil entrar na onda de educar e corrigir a criança. De dizer o que está certo ou errado. De informar sobre o que outras crianças fazem, o que ela deveria fazer com àquela idade, o que é ser mal educado ou bem educado, o que se tem de fazer… A maioria das vezes que nos focamos na conexão com a criança, no cuidar da relação que temos com ela, a correção vem como consequência. 


Pensa a longo prazo! Não exiges resultados à curto prazo. Pensa na intenção global que tens em relação à educação dos teus filhos (ou das crianças com quais interages). Avalia tudo que fazes com isso em mente.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

As Crianças



Um dos textos mais bonitos sobre a relação entre crianças e adultos que conheço, é do Khalil Gibran. Hoje, gostaria de partilha-lo contigo. Acredito que a relação entre nós adultos e as crianças existem tanto para o nosso crescimento como para o crescimento dos nossos filhos... E muitas vezes até penso que existe nomeadamente para desafiar os adultos a encontrarem a sua essência. 

Convido-te a a ler o texto, várias vezes e ponderar bem o que estas palavras te fazem sentir e como te relacionas com elas. 


E uma mulher
que trazia uma criança ao colo
disse:
- Fala-nos das Crianças. 

E ele respondeu:
- Os vossos filhos
não são vossos filhos:
são filhos e filhas
do chamamento da própria Vida. 

Vêm por vosso meio
mas não de vós;
e apesar de estarem convosco,
não vos pertencem. 

Podeis dar-lhes o vosso amor;
mas não os vossos pensamentos:
porque eIes têm pensamentos próprios. 

Podeis acolher os seus corpos;
mas não as suas aImas:
porque as suas aImas
habitam a casa de amanhã
que não podeis visitar,
nem sequer em sonhos. 

Podeis esforçar-vos por ser como eles;
mas não tenteis fazê-los como vós.
Porque a vida não vai para trás,
nem se detêm com o ontem. 

Sois os arcos, e os vossos filhos
as setas vivas projectadas. 

O Arqueiro vê o alvo no caminho do infinito,
e reteza-vos com o seu poder
para que as setas
possam voar depressa para longe. 

Que a vossa tensão na mão do Arqueiro
seja de alegria. 

Porque assim coma Ele gosta
da seta que voa,
também gosta do arco que fica. 



de Khalil Gibran
in “O Profeta”


 

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A Sara e a escola


Imagem daqui



Sara era uma menina pequena... em altura, mas grande na mente! Ela andava na segunda classe e tinha pais extremamente exigentes. Desejavam sempre o melhor para a filha, e sabiam que estudar e ter sucesso escolar é extremamente importante nos dias de hoje. Mas a Sara, para desagrado dos pais, tinha alguns problemas na escola. Os pais tentavam de tudo, castigos…. “Se não tiveres boas notas não podes ter à boneca que pediste!” E prémios…. “Se tiveres boas notas damos-te a boneca que pediste!”. Mas quanto mais recompensas, e quanto mais castigos, mais a Sara se distanciava do trabalho na escola. A cada dia que passava parecia menos motivada e ainda por cima começou a perturbar as próprias aulas.

Um dia, porém, a Sara chegou da escola com um grande sorriso nos lábios. Sentou-se logo para fazer os trabalhos de casa e os pais olharam para a menina estupefactos. Na manhã seguinte, a Sara levantou-se sozinha e estava preparada para ir para a escola antes dos outros membros da família. Os pais resolveram não comentar nada, aliás achavam que aquilo ia provavelmente passar. Já tinham existido outras vezes, no passado, em que coisas parecidas tinham acontecido e os pais tinham dificuldade em acreditar que esta situação fosse duradoura. Mas passaram duas semanas e a motivação da Sara manteve-se, e os resultados na escola começaram a aparecer!


Nessa altura, os pais da Sara tiveram uma reunião com a professora onde ela não poupou elogios à pequena. A Sara estava a fazer grandes progressos! A Sara até se tinha revelado uma menina muito inteligente!... “É tudo muito mais fácil agora que a Sara anda tão motivada”, dizia a professora. “E claro tem muito a ver com o facto de a Sara gostar muito do novo professor de apoio com quem ela tem passado bastante tempo.” Os pais pediram para conhecer a pessoa que tinha ajudado a filha a encontrar a motivação e a professora levou-os até ele. E quando o cumprimentaram, descobriram com espanto, que era mudo.


- Mas como é que este senhor pode ser professor quando não consegue falar?! exclamou o pai

- Porque ele consegue ouvir! respondeu a Sara.