quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Métodos, métodos, métodos…

Métodos, métodos, métodos… há métodos para tudo, não há? Métodos para fazer dormir, fazer comer, fazer vestir, fazer estudar, fazer…..

Muitos pais procuram-me no intuito de obter um método para resolver um problema/um comportamento/uma situação com o filho. Quando nos ocorre uma situação com o nosso filho, com o qual temos dúvidas e/ou dificuldades de lidar, muitas vezes o primeiro pensamento é que deve haver algum “método” para resolver isto. Falamos com os amigos, com os pais, consultamos a internet e os livros…. A procura de um método.

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Antigamente havia um “moral social” e normas que reinavam na sociedade (ainda temos sobras disso, claro), que guiavam os pais em relação à educação dos seus filhos… por bem e por mal…. Muitos métodos utilizados (como por exemplo a violência) eram desastrosas para o desenvolvimento da saúde mental, mas tinham grande sucesso para conseguir que as crianças ficassem quietas, obedientes e bem comportadas  (comportamentos essencias para depois se tornarem bons trabalhadores na sociedade industrial….). 

Hoje em dia, a maior parte nos país sente que devemos fazer algo diferente… O desafio agora é encontrar uma alternativa, e os pais não sabem bem o que, e aí começa a procura dos métodos…

A maior parte dos métodos no mercado estão baseados na psicologia comportamental e a maioria deles tem como objetivo regular um comportamento (ou vários). (Muitos provavelmente já ouviram falar dos cães do Pavlov que iniciou esta área e as ideias de como incentivar e castigar crianças que existem vêm destas teorias… )

Antes de continuar, quero propor uma reflexão. Quando tens uma situação com o/a parceiro/a, a tua mãe, o teu pai, um amigo… que gostarias de mudar…. O que fazes? Procuras um método? Utilizas métodos com outros adultos na tua vida pessoal?.... Acho que a maior parte de nós nunca se lembrou de procurar um método específico para conseguir que o marido começasse a por a tampa da sanita para baixo ou qualquer outra coisa do género. 

Na Family Lab não gostamos de falar em métodos principalmente pelas três razões seguintes (adaptado do artigo do Jesper Juul, “metoder”):

1. Quando utilizamos um método entre pai e criança, estamos a objetificar a criança. Cientistas como Daniel N Stern, e outros grandes neurobiólogos, alegam que este tipo de relação não é o ideal para o bem-estar da criança, o pai, e a relação entre eles. E a Family Lab e o Jesper Juul referem que mais de 50 anos de experiencia na terapia de família diz exatamente a mesma coisa. 

2. O propósito dos métodos é conseguir obter um, pelos pais/educadores definido como, ”bom” comportamento. O comportamento não desejado é “eliminado”. Assim ignorando o sentimento e/ou a necessidade por trás do “mau” comportamento. Quando se trabalha por exemplo com famílias ”disfuncionais” vê-se que em 99% das vezes, o ”mau” comportamento, é um sintoma de um sistema (família/escola etc.) que funciona mal. 

Ou seja, procura-se a obediência, e evita se o conflito. A diferença entre antigamente e agora é que antigamente a violência física era (ainda) mais utilizada. Hoje em dia, utiliza-se (com os métodos) técnicas de manipulação mais afinadas. Um processo que significa violarmos a integridade emocional e existencial da criança. 

3. Sabemos através da experiência que quanto mais violamos a integridade de uma pessoa, mais ela se vai adaptar às exigências e expectativas a sua volta. Isso significa que os métodos terão ”successo”. 

Muitos dos métodos apresentados por aí (de Estivill para Brazelton e outros…) dizem ser baseados em evidências. Investigando a base das evidências muitas vezes percebemos que o valor científico é bastante baixo e os estudos estão apresentados pelas pessoas que já são “crentes”.  O sucesso é medido a muito curto prazo (o comportamento mudou) e os estudos dos efeitos ao longo prazo ainda não existem (embora através da psicologia de desenvolvimento e a neurociência consigamos adivinhar muitos dos efeitos).

Ou seja, é altura de admitirmos que todos os tipos de métodos são manipulação, e não sabemos os efeitos deles na vida social e pessoal dos futuros adultos. 

Mas, e então? Perguntam-me… o que faço com esta informação, isto não me ajuda nada. Nunca posso utilizar nenhum método? E quando o meu filho não se quer vestir….. E para ele dormir, não o posso deixar chorar só um pouco?.... A minha resposta é… sim e não! 

A questão fundamental é que cada criança é uma criança e cada família é uma família, e cada situação é uma situação. Não há métodos que funcionam. Há estratégias que podemos utilizar em diferentes contextos.
O único “método” universal que tenho a propor é método de utilizarmos principalmente dois dos nossos sentidos! O ouvir e o ver! 

Ouçam e vejam os vossos filhos. No verdadeiro sentido, em cada momento, em cada situação… e obterão as respostas necessárias para criar a máxima harmonia e o maior equilíbrio na vossa família!